Thursday, January 12, 2012

Página 3

(você realmente me ama?)

ESTOU EM SUAS MÃOS e você cadê? Na rua? Perto de casa? Atravessando o último sinal antes de se esconder no seu mundo? No metrô: sentada, esperando as duas próximas estações para desembarcar e voltar para a sua realidade? Escondida em algum andar de um prédio qualquer para ler ou reler cada palavra aqui escrita sem ser vista, interrompida, encontrada, descoberta, despida pela sua realidade? Estendida em algum canto, desentendida em outro canto – como tantos que existem por aí? Cantarolando alguma música qualquer para se distrair e não me esquecer? Imaginando algum amor qualquer para se apaixonar e não me aquecer? Estou em suas mãos e você cadê? Preparando um chá – preto ou verde ou branco – para se acalmar e se curar de todas as dores com todas as cores e então, entre um gole quente e outro morno, descobrir que o amor é uma dor fria que já nasce anestesiada? Bebendo um vinho tinto e seco para embriagar o nosso breve romance e ter as mãos trêmulas para fingir que não consegue me alcançar? Nessas horas – quando você não sabe onde está e simplesmente quer sumir do mundo, estalar os dedos e procurar uma realidade distante da sua – você nunca gostou de conversar e sempre preferiu o silêncio disfarçado de cinzas e gargalhadas. Realmente, os cigarros e as risadas são as melhores formas de acariciar o que nos faz sofrer, o que nos faz doer, enfim: o que nos faz viver. Estou em suas mãos e você cadê? Ajeitando a maquiagem para esconder a perfeição que os seus olhos grandes e quase negros desenharam no seu rosto? Pensando em mim sem poder pensar? Jogada na cama, nua, coberta apenas pela minha poesia, querendo que o amanhã chegue logo para me encontrar e descobrir que você está descoberta de razão? Cadê você, meu amor? Que o amanhã seja hoje para que você possa esbarrar em mim e me berrar com aquele silêncio – que só eu consigo escutar – que você me ama, que você me ama, que você me ama... Você realmente me ama, mabelle?

Estou em suas mãos e você em cada poema. Os dias são amores em claro e é claro que esta noite não ouvirei a sua voz tão delicada. E amanhã? Não se sabe. Nosso amanhã é sempre um talvez. Ontem consegui me acalmar com suas breves e belas palavras. O amor se alimenta e, sobretudo, sobrevive de belas e breves palavras. É assim, e só assim, que ele consegue se manter vivo. E o que me mantém vivo? Além das suas belas e breves palavras? Sem dúvida, a eterna vontade de preservar tudo o que você me diz ontem, hoje e sempre. Todo amor que você não ama / É um amor que desanda, é um amor que deságua em infinitas mágoas / E foge sem asas, como um pássaro amedrontado pela liberdade, num céu sem estrelas / À procura de um amor tão infinito quanto as mágoas / E parte sem querer partir /E se parte sem querer voltar.

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