Friday, May 30, 2008

Autópsia de um poeta

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Não satisfeito com a minha morte. Fui buscar as causas. Abri meu peito poeticamente para descobrir quem eu sou sem me machucar. Machuquei a poesia sem descobrir quem eu sou e fechei-me.
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Sunday, May 25, 2008

Um mar de olhos [ parte 2 ]

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Pela profundeza dos teus segredos posso imaginar a loucura das tuas paixões.
Quero (me) quebrar como uma pequena onda. Quero aparecer sem causar estragos, mas aparecer. Quero surgir sem deixar vestígios, mas surgir.
Acariciar seu litoral e sumir delicadamente pelas areias pisadas pelos pés desconhecidos daqueles que te maltratam pouco a pouco e ousam te chamar de amor sem mesmo te conhecer por inteira.
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Monday, May 19, 2008

O silêncio incompreendido

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Ela trouxe o silêncio e alguns cigarros. Trouxe também aquele sorriso de canto e contou algumas histórias engraçadas. Pediu para que eu esboçasse um gesto de entendimento, mas eu não entendia nada. Trouxe os meus filhos, as minhas contas, os meus contos ainda não escritos e escreveu no espelho, em vermelho, que me amava. Mas quem ama não escreve em vermelho. Vermelho é a cor da paixão.

Contemplou o céu do meu quarto e levou tudo embora – como se eu já não soubesse que tudo o que ela trazia durante o dia já estivesse predestinado a partir antes de anoitecer. Pensou em dizer várias coisas, mas não disse nada. Ela sempre preferiu não dizer a ter que se explicar. E eu a entendo. Costumo dizer que não-dizer é falar calado. É o momento onde todos os pensamentos e todos os absurdos passam em fração de segundos em nós - como aqueles amores antigos do tempo em que ainda se amava em preto e branco e os amantes ainda podiam apreciar um verdadeiro final feliz (sem chorar).
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Wednesday, May 14, 2008

Um mar de olhos [ parte I ]

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Pela correnteza dos teus olhos marejados
Tento me aproximar do porto mais distante do teu.
Não quero ancorar – só passei para te levar...
Mas você não quis se deixar levar
E eu me deixei naufragar.

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Sunday, May 11, 2008

Amores mal-resolvidos

Dos meus amores mal-resolvidos guardo boas lembranças e algumas cartas inacabadas. Guardo desenhos confusos e algumas velhas notícias. Guardo também muitas noites mal-dormidas e uma ou outra manhã mal-acordada.

Dos meus amores mal-resolvidos guardo todos os cigarros que eu nunca quis fumar e todas as palavras que preferi não mencionar. Guardo os poemas nublados assim como o céu incompreendido. Guardo também pequenas fobias e grandes oportunidades perdidas.

Dos meus amores mal-resolvidos guardo a melancolia de uma manhã chuvosa de Domingo e a raiva de uma tarde ensolarada de Segunda. Guardo as roupas, os cheiros, os hábitos e um bocado de boas risadas. Mas não quero rir agora.

Dos meus amores mal-resolvidos guardo quase tudo menos mágoas porque sei que são eles que me guardam dia e noite e me aguardam noite e dia como se, um dia ou uma noite qualquer, eu fosse tentar resolvê-los.

Thursday, May 01, 2008

O corpo cala

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Eu interpretei sua distração como sendo excesso de sentidos se comunicando ao mesmo tempo. Seu olhar viajante me dizia eu te amo, suas pernas entortadas me diziam não se vá, suas mãos incansáveis diziam me abrace, enquanto o resto do seu corpo, já cansado, cobrava uma atitude. Uma atitude que eu nunca fui capaz de tomar. Felizmente seu corpo fala. Infelizmente meu corpo cala.
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