Tuesday, March 31, 2009

O amor no tempo da crise

[...]
Toda crise se torna pequena e distante quando se tem, ao lado, um grande amor.

É amor, parece que a crise também afetou o nosso amor. Até nas palavras economizamos. Não falamos mais bom-dia nem boa-tarde e o boa-noite agora só é dito por falta do que dizer antes de dormir.

Perdemos o hábito de ganhar uns minutos a mais com os afagos diários – tão necessários. O café da manhã foi esquecido. O chá da tarde foi deixado de lado. A troca de olhares está menor e o toque está cada vez mais distante.

É amor, parece que a crise também afetou o nosso amor. Reduzimos os gastos, os gestos, os afagos, os apelos. Cortamos pela metade os elogios, as ofensas, os segredos, as conversas telefônicas, as carícias virtuais e não usamos mais códigos, só nossos, para dizer um pro outro o que só nós entendemos.

Ajustamos alguns valores. Questionamos o quanto custa ser feliz. Pagamos as últimas contas não-pagas. Apagamos as luzes. Fizemos pequenos cálculos e vimos que é impossível viver sem um grande amor.
[...]

Friday, March 27, 2009

Amostras

[...]
Quero conservar o medo de te perder. É justamente ele que me mantém seguro sobre o que sinto por você. Um sentimento puro, transparente, que deixa à mostra: sangue, lágrima, dor e uma enorme vontade de te ver. Um sentimento puro, transparente, que deixa à mostra: risos, sorrisos, gargalhadas e uma imensa vontade te continuar te vendo. Um sentimento que deixa amostras de como tudo vale a pena. Que deixa amostras de dias bons, sonhos bons, sonos longos e bons sons. Um sentimento que deixa amostras de um tempo feliz, um tempo de paz.

Quero preservar a perdição que é ter medo de te perder. É justamente ela que contém meus impulsos. Prende meus absurdos. Amarra minhas intenções e impede que minha loucura alcance o ponto de equilíbrio dos seus desequilíbrios. Às vezes me assusto, não por medo, mas por não entender e não saber como agir. Mas não posso deixar de me assustar, não posso perder esse medo. É ele que faz querer te entender e, por conseqüência, me entender.

Se não houvesse esse medo, não haveria você. Se não houvesse você, não haveria sentido. Se não houvesse sentido, porque eu sentiria medo?
[...]

Monday, March 23, 2009

A (re)volta da sua ida

[...]
Nas suas intermináveis idas, eu tentava ocupar o espaço que você deixava com poemas densos, músicas infinitas e livros sem fim. Mas tudo era um pouco em vão. Tentar te esquecer era quase impossível. Sempre achei mais fácil tentar esquecer que tento te esquecer do que tentar te esquecer. A vida me deu a certeza que não ter você é te ter de outra forma. Não ter você é te pensar. E quando te penso, te vejo presente. Te vejo aqui. E nesses pensamentos acabo enxergando você de tantas formas, com tantos conteúdos, com tantos absurdos, com tantas vestimentas, com tantos sentimentos, com tantas alegrias. Contanto, eu não lembro o tanto que eu já chorei esperando um sinal de vida, mesmo que seja só pra me avisar que você morreu.

Ontem, por exemplo, e por costume, vi os seus olhos marejados e chorei. Não chorei apenas porque via tristeza no seu olhar. Chorei porque a sua alegria teimava em querer escapar das suas mãos, da sua pele, dos seus cabelos, do seu corpo – como se você não tivesse o direito de ter, também, pequenas doses diárias de felicidade momentânea. É raro ver um sorriso compartilhar a mesma lágrima com o choro. Eles se entendem, mas é um entendimento que quem chora ou ri não entende.

Suas lágrimas são misturas. Misturam o tempo que passou com o tempo que não existe, misturam os dias que você dormiu com as noites que não acordou, misturam passeios, anseios, sonhos, paixões antigas, amores futuros, vômitos, melodias inconscientes, loucuras conscientes, tropeços, poemas e, tenho certeza, que elas guardam um pouco de mim. Sempre fui de alguma forma, causador dessa sua dor. Não entenda “dor” por mal, amor. A dor que me refiro é a dor necessária dos amantes. É aquela dor que quem ama sabe que não tem a pretensão de destruir. É aquela dor que quem ama sabe que não vem pra derrubar. É aquela dor que [...] você sabe, amor. Você sabe que eu quero me derreter e dividir as suas alegrias e as suas tristezas. Todas elas. Você sabe que hoje, eu vou dormir um pouco mais feliz, ou triste, porque, pelo visto, suas intermináveis idas terminaram.
[...]