Friday, November 16, 2007

O mosquito alegre

[...]Os mosquitos não me deixaram dormir. O calor não foi o maior incômodo. Os mosquitos não me deixaram dormir. Fiquei sentado, na beira da cama e sem você. Os mosquitos não me deixaram dormir. Era mês de maio, era dia vinte e seis. Os mosquitos não me deixaram dormir. Levantei. Fui ver pela janela menor se, lá fora, ainda havia alguma coisa viva e móvel. Nada se movia. Nada mais me comovia. Nada parecia vivo. Nada mais me convivia. Aqui dentro, os mosquitos se moviam; os mosquitos eram vivos, bem vivos; os mosquitos até se comoviam com a minha incapacidade de afastá-los e conviviam comigo como se fossem meus mais íntimos amigos íntimos – confesso que devo confessar que eles tinham, até certo ponto, certa razão.[...]

Sunday, November 11, 2007

Incômodo silêncio

[...]Posso não ter falado nada. Era tudo o que eu queria falar. Palavras, às vezes, não são necessárias. Palavras, às vezes, só servem para ter algo a dizer quando não se tem nada a dizer. Não me sinto nem nunca me senti na obrigação de sempre ter algo pra falar. Meu silêncio é minha melhor palavra. Não tem som, mas faz barulho. Não tem som, mas te incomoda. Eu sei que te incomoda. Eu sei que você precisa se alimentar de palavras bonitas pra se sentir a mais bonita de todas as criaturas bonitas. Querida, às vezes, as palavras não são necessárias.[...]

Saturday, November 10, 2007

Ontem [trecho]

[...] Ontem ainda se ouvia os pássaros. Os pássaros que traziam uma falsa impressão que o dia amanheceu feliz. A chuva contraria os pássaros. A chuva me obriga a não gostar do dia. A chuva me obriga a não sorrir. A chuva me obriga a não ficar acordado. A chuva me obriga a dormir. Dormir é fugir da chuva. Dormir é quando fujo de você. Será você a chuva? [...]

Friday, November 09, 2007

Pertence [trecho]

[...]Eu me enganei. Achei que teríamos uma casa, um jardim, um cão, dois gatos e um filho. Vejo que não temos nada além de um fim forçado – um fim necessário. Quando os sonhos não conseguem mais acompanhar a realidade, é melhor terminar. A realidade estraga os sonhos. É o que os Homens chamam de fim. A realidade, é que você estragou os meus sonhos. Por isso achei melhor terminar. Por isso achei melhor te evitar. Por isso achei melhor não te enganar e confessar que eu me enganei[...]

Thursday, November 08, 2007

Cartas à Bárbara [trecho]

[...]Eu sei que nunca serei lido pelos seus olhos. Por isso me tranco nessa ilusão. Essa ilusão que é minha. Essa ilusão que me traz num piscar de pupilas tudo o que eu desejar, imaginar, exigir e esperar. Quando digo Tudo, me esqueço de você. Nem a mais otimista das minhas ilusões consegue trazer você de volta [...]
(em breve, o texto inteiro estará disponível)

Monday, November 05, 2007

A Estátua (trecho)

A distância me deixa mais tranqüilo. Sei que você não vai me incomodar, sei que você não vai me questionar, sei que você não vai me julgar, sei que você não vai descobrir se fumo ou não, se bebo ou não, se trepo ou não, se falo ou não...
Mantenha essa distância. É minha segurança.
A proximidade muitas vezes estraga o que a distância preserva. Infelizmente, devo admitir que um dos grandes motivos do fracasso dos amantes é justamente essa necessidade de se estar junto. É contraditório, mas, pensando bem, é real. O amor força um encontro. Um encontro força um desgaste. Um desgaste força uma briga. Uma briga força um afastamento. Um afastamento força uma dor. Uma dor força um novo encontro. Um novo encontro força um novo desgaste, um novo desgaste força uma nova briga, uma nova briga força um novo afastamento, um novo afastamento força uma nova dor, uma nova dor força um novo encontro novamente....é assim gira esse ciclo apaixonante - pra não dizer: cruel.
[ trecho de um texto meu chamado "A estátua" - em breve postarei por aqui]

Sunday, November 04, 2007

Sonhos vêm e vão, olhos vêem em vão.
Amores vêm e vão, amantes vêem em vão.

Pode acreditar: amar é não deixar o amor te dominar.

Friday, November 02, 2007

Absinto-muito

Ela queria que eu criasse um mundo, mas esse mundo já existia.Ela fazia do meu corpo um labirinto onde a entrada não levaria pra longe.Ela pedia pr´eu não seduzir qualquer pessoa que me visse só por fora. Ela fazia do meu corpo um labirinto onde a saída não teria segurança. Ela sabia me pintar de ouro e me banhar nas águas claras. É claro, eu agradecia. As fantasias sempre são as mesmas você no chão e eu ascendendo as velas.Ela podia me controlar, eu sei, e transformar os meus vinte anos em dias comuns. Ela insistia pr´eu vender o sonho de ser estrela nesse céu escuro, mas o sucesso só alcança quem não acorda. Absinto-muito.
(texto/música antigo. Foi em 2003, resgatei agora. É sempre bom resgatar o que está quase esquecido).