Monday, November 17, 2008

Sintomas "Te amo"

Febre alta. Vontade de te esquecer.

Quero me apossar dos teus sintomas de mau humor: o café gelado, a boca fechada, as sobrancelhas desenhando um V no seu rosto, quase com raiva. Quero me apossar das tuas roupas, poucas. Dos teus sapatos pequenos. Das tuas malas prontas, querendo partir. Das duas horas antes de te conhecer. Dos dois segundos depois de te perder. Quero me apossar da sua voz rouca dizendo que me ama a qualquer hora da manhã. Quero me apossar dos teus segredos mais íntimos - aqueles que te deixam desnuda. Quero me apossar dos teus medos mais óbvios - aqueles que te deixam muda. E essa ausência de palavras me pede para parar de te desvendar. Mas eu não consigo ser mais forte que a doença que se apossa de mim. Desculpa amor, não consigo me desfazer desses sintomas. Sinto, mas te amo.

A febre baixou e a vontade de te esquecer também passou.

O tempo em que você nasceu

1947 poderia ser o ano da independência da Índia. Poderia ser o ano onde a Assembléia Geral das Nações Unidas votou a divisão da Palestina entre Árabes e Judeus. Poderia ser o ano de fundação do Fundo Monetário Internacional. 1947 poderia ser o ano onde ocorreu a primeira quebra da barreira do som. Poderia ser o ano de criação da câmera Polaroid. Poderia ser o ano da criação da arma AK-47. Poderia ser o ano em que o Presidente Truman, em um dramático discurso ao seu congresso anuncia a Doutrina Truman e é iniciada a Guerra Fria. Mas não. 1947 foi o ano do meu pai.
Pai, você ainda lembra o dia que você nasceu? Naquele tempo em que você ainda dependia dos seus pais para andar, comer e começar a falar. Mas, rapidamente você cresceu e aprendeu a fazer as coisas sozinho. Os cabelos foram mudando de cor, as mãos ficaram maiores, os medos chegaram. E os primeiros amores também. Os amores de infância, aqueles amores inocentes que não machucam, não mordem. Os chamados pequenos amores. Pequenos não por não terem importância. Pequenos por serem os primeiros e pelo pouco tempo que duram. Eles não passam de alguns dias, alguns olhares. Passam rapidamente. Assim como o Tempo. Assim como a Vida. Assim como o ano em que você nasceu.
Naquele tempo o mundo parecia uma fotografia antiga, né? Preto e branco. Sem violência. As grandes guerras tinham acabado de terminar e a paz parecia, enfim, reinar. Infelizmente tudo passa. As guerras passaram. A paz já passou diversas vezes. E você também não parou no tempo. Continuou crescendo. Conquistou a sua independência. Foi em busca dos teus sonhos. Seguiu tuas escolhas. Escolheu seus caminhos. aceitou os desafios. Riu muito. Chorou bastante. É só assim que se aprende a viver. O grande motivo da vida é que estamos sempre aprendendo a viver. Por isso dizem que ela é infinita. Assim como são infinitas as decepções, as alegrias, as responsabilidades, as necessidades, as pequenas paixões, os grandes amores, as quedas, as ascensões.
Pai, o Tempo passa rápido, não é? Ontem você nem tinha emprego, hoje você está quase se aposentando. Ontem você não tinha filhos, hoje você já tem um neto. Ontem você não sabia falar, hoje já tem discursos espalhados pelos quatro cantos do mundo. Pai, hoje pelos seus cabelos cinzas, vejo que a vida continua passando depressa. Ontem eu cabia no seu colo, hoje já quase não caibo mais no seu abraço. E são essas pequenas lembranças do tempo em que você nasceu que trazem as maiores recordações que a vida, infinita, pode nos proporcionar.
Parabéns.

Thursday, November 13, 2008

Um poema para dois amantes

[...]

Você mergulha nos meus braços procurando um lugar seguro
Olha pro céu sem pestanejar
Balbucia palavras que não entendo
E, desatenta, tenta dizer que me ama.

Eu me jogo num precipício buscando seguir o seu mergulho
Olho pro chão, me enterro
Me vicio em você
E, desatento, tento dizer o mesmo.

[...]