Monday, January 26, 2009

Lágrimas alegres

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Enquanto eu amava, ela derramava.
Bêbada de sono e de saudade. É assim que ela chegava em casa todas as noites desde que a conheci. Contava sobre seu dia e as horas que ficava acordada tentando dormir, desperdiçando o sonho bom que poderia ter vindo depois desse dia ruim.
Ela ainda não sabia exatamente como distinguir a dor que sentia do amor que queria. Mas, por incrível que pareça, era feliz. Feliz a ponto de chorar. Feliz a ponto de não querer sorrir. E guardava todas as lágrimas num frasco transparente, antigo, um pouco quebrado e sujo que chamava Alegria.
E eu, alegre, a amava. E eu, bobo, a amava. E eu, contente, a amava. E eu, descontente, a amava. E eu, obediente, a amava. E eu, compulsivo, a amava. E eu, ausente, a amava. E eu, distante, a amava. E eu, grudado, a amava. E eu, amedrontado, a amava. E eu, vazio, a amava. E eu, completamente, a amava. E eu, simplesmente, a amava. Sem adjetivos, objetivos, sem conceitos, preconceitos, sem crenças, promessas. Eu, simplesmente, a amava.
E ela, bêbada de sono e de saudade, derramava a alegria pelo chão, pelo teto, pelas paredes, pela pele, por mim, sem enxergar que o que se derrama sobre um amor efêmero não dói porque foi vivido, mas dói porque não foi eterno.
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Tuesday, January 13, 2009

Fato consumado por um amor consumido

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Era domingo, sétimo dia da semana, um pouco antes das oito e meia da noite do nono mês de um ano qualquer: Um primeiro amor sem segundas intenções foi consumado sem terceiros, num quarto de um conhecido por um casal desconhecido . Os dois estavam há quase três horas e trinta minutos deitados como se fossem um. Ele aparentava ter menos de vinte e poucos anos. Um quinto de segundo bastou para que os seus seis sentidos perdessem os sentidos. Ela não tinha menos de trinta e se abria num ângulo de não sei quantos graus e era consumida por não sei quantos centímetros e gozava múltiplas vezes por não sei quantas horas; enquanto, lá fora, a noite inteira parecia ter se passado em apenas um segundo.
É domingo, sétimo dia da mesma semana, um pouco depois das oito e meia da noite do nono mês do mesmo ano: aquele mesmo primeiro amor sem segundas intenções foi consumido pela minha imaginação.
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Monday, January 05, 2009

A importância do que resta de nós

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Amor. O amor parece incapaz de entender que tudo o que a gente diz ou não diz tem a mesma importância. Eu me importo com seu sono, com seus sonhos, com seus mimos, seus ataques, suas defesas. Eu me importo com o seu cigarro - aquele que você adora fumar brevemente quando chega de mais um longo dia de trabalho. Eu me importo com sua falta do que falar e com o seu excesso do que fazer, mas faço questão de não te fazer perguntas, justamente para não te fazer falar o que você não quer dizer.

Eu me importo com seus dias, suas noites, e as madrugadas que eu sei que você não consegue dormir, e me faz acordar. E assim ficamos de acordo, acordados, observando a mudança de cor do dia, da noite; vendo esse alaranjado pintar o céu por inteiro com suas cores preferidas, melancólicas, com pitadas de esperança.

Amor. É um prazer acordar ao seu lado e saber que o resto do mundo, assim como o que resta de nós, não tem mais tanta importância já que a incapacidade de amar está imensamente associada ao desespero de perder um grande amor. E eu tenho certeza absoluta que nunca vou te perder, pelo menos não agora.
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