Monday, May 19, 2008

O silêncio incompreendido

[...]
Ela trouxe o silêncio e alguns cigarros. Trouxe também aquele sorriso de canto e contou algumas histórias engraçadas. Pediu para que eu esboçasse um gesto de entendimento, mas eu não entendia nada. Trouxe os meus filhos, as minhas contas, os meus contos ainda não escritos e escreveu no espelho, em vermelho, que me amava. Mas quem ama não escreve em vermelho. Vermelho é a cor da paixão.

Contemplou o céu do meu quarto e levou tudo embora – como se eu já não soubesse que tudo o que ela trazia durante o dia já estivesse predestinado a partir antes de anoitecer. Pensou em dizer várias coisas, mas não disse nada. Ela sempre preferiu não dizer a ter que se explicar. E eu a entendo. Costumo dizer que não-dizer é falar calado. É o momento onde todos os pensamentos e todos os absurdos passam em fração de segundos em nós - como aqueles amores antigos do tempo em que ainda se amava em preto e branco e os amantes ainda podiam apreciar um verdadeiro final feliz (sem chorar).
[...]

4 comments:

FlaM said...

E eu costumava dizer da eloqüência do silêncio. Difícil é a decodificação da escuta. A leitura da fala de quem cala é enganosa, errática. A comunicação um risco...
A fala de quem cala é jogo de adivinha – e, se não explica, fere.
bj, f

Morganna said...

'Ela sempre preferiu não dizer a ter que se explicar.'

porque é mais fácil e dói menos. :~

:: Daniel :: said...

O silêncio significa mais que a própria palavra, o próprio dizer.

Abs!

Alice said...

....e em poucas palavras te digo: adorei !

bjkassssssss