Sentado numa pedra em frente ao mar revolto, observo as ondas imensas que agridem as pequenas rochas do litoral. O vento corta meu rosto, bagunça meus cabelos e trilha novos caminhos para as minhas lágrimas. Não vejo ninguém por perto. Não vejo ninguém ao longe. Só quem me acompanha é o mar. Só quem me ouve é o mar. Só quem me responde é o mar. Aquele mar infinito que me afasta e me aproxima do meu passado com a mesma facilidade.
Olho para o horizonte. Sempre quis tocar o horizonte. Sempre achei que o mundo fosse melhor por lá. Ele parece distante e inalcançável, assim como você. Eu achava que num piscar de olhos, você estaria ali: me esperando de braços abertos e com palavras bonitas. Aquelas mesmas palavras que eu ouvia quando era pequeno. Você dizia que eu seria forte como uma rocha e imponente como o mar. Você dizia que eu seria grande como as ondas e resistente como as pedras. Meu único desejo agora é mergulhar nessa imensidão azul e procurar a sua companhia nessas profundezas estranhas e desconhecidas.
Estou só. Eu e minhas velhas poesias. Poesias que falam de um tempo que não volta mais. Poesias de um tempo vivido e, agora, distante. Poesias entupidas de versos que carregam o peso do passado, o peso da memória, o peso da lembrança, o peso da infância que ficou para trás, o peso da saudade. Estou só. Eu e minhas fotografias antigas. Elas também trazem o cheiro do passado, o cheiro da memória, o cheiro da lembrança, o cheiro da infância que ficou para trás, o cheiro da saudade. Em uma delas, me vejo pequeno, sem lágrimas, vestindo uma roupa esquisita, colorida. Naquele tempo tudo parecia uma fotografia antiga. Não sei por que, mas a Saudade pra mim sempre foi um sentimento em preto e branco. É como se as cores daquele tempo também tivessem envelhecido com o passar dos anos.
Lembro que não faz muito tempo, eu ainda corria pelas ruas, rindo por tudo, rindo por nada, rindo apenas. Tinha uma vida e uma avenida inteira pela frente. Eu era livre para ser livre. Não tinha muros para me impedir. Não existiam grades para me prender. Não havia mãos para me segurar. Eu fingia ser um avião, meus braços eram minhas asas. Meus pés faziam o papel do acelerador e corriam rápido, muito rápido, como querendo alcançar imediatamente o outro lado do mundo, um amor efêmero, um sorriso curto, um gesto impensado. Meus pés sabiam que as coisas eram vãs, por isso não podiam perder tempo. Minha casa era o aeroporto, onde todos que me amavam me esperavam. Eu apenas fingia voar. Toda criança sonha em voar. Eu não era diferente.
Não sei quantas horas se passaram. Não sei quantos dias eu perdi... Mas eu continuo sentado na mesma pedra, olhando para o mesmo mar que agride com a mesma força as mesmas pequenas rochas desse mesmo litoral, relembrando o tempo que passou voando. Estou mais calmo. Mas a saudade continua. Minhas poesias parecem estar mais nítidas. Mas a saudade continua. Minhas fotografias parecem mais coloridas. Mas a saudade continua. E não é saudade dos amores que ficaram pelo caminho, da comida que já foi digerida, do poema que não foi escrito, da fotografia que não foi tirada... Sinto saudade desse mar infinito que leva e traz as minhas memórias como se estivesse ninando um filho. Ah! Como eu queria poder fingir voar novamente, como quando eu era criança. Abrir meus braços e correr, acelerar e pousar no mesmo aeroporto, tendo a certeza que todos aqueles que me amam ainda me esperam de braços abertos e com palavras bonitas. Lembra? Você dizia que eu seria forte como uma rocha e imponente como o mar. Lembra? Você dizia que eu seria grande como as ondas e resistente como as pedras. Hoje estou um pouco maior, um pouco mais velho, mas ainda guardo em mim aquele desejo inocente de mergulhar nessa imensidão azul e procurar a sua companhia nessas profundezas estranhas e desconhecidas.
No comments:
Post a Comment