O cais está cheio de sacos plásticos com marcas de supermercado. Sinal de que a globalização já chegou no fim do mundo. O cais está cheio de óleo, de barcos e de ondas fracas. Sinal de que a Natureza não tem mais força. O cais está cheio de curiosos que perderam um dia de trabalho para me ver dobrar o horizonte e sumir de vez de vista.Os gestos de adeus enfeitam a paisagem, preenchem alternadamente os espaços vazios, perturbam a inércia com um delicado vai-e-vem.Maridos traídos, mulheres virgens, crianças órfãs e bichos domesticados entornam lágrimas inúteis e se tornam testemunhas fundamentais dos meus testemunhos.Eu nunca entendi essas lágrimas.Sempre me soaram falsas, mas hoje eu sei que amanhã vou sentir saudades dessa falsidade necessária. A sinceridade, sinceramente, nunca me deu comida, nunca me deu um cigarro, nunca me abraçou ou me levou pra passear, nunca me deu a mão nem o braço à torcer, nunca me deu um emprego, nunca lavou meu carro, nunca me viu pelado nem nunca me pediu para ficar.
O vento me afasta do litoral. Procuro não olhar para trás. Tenho medo de ser sincero demais e interromper de vez essas saudades ininterruptas.
Não posso voltar.
Não posso voltar.
2 comments:
só não entendi por que são falsas.
Ser sincero é tão bom e tão dolorido...
As pessoas não gostam da sinceridade...
o que é uma pena...
Mas como quem tem pena é galinha, foda-se o mundo!
hauhauhauhauah
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